02 abril 2006

Nem tudo passa


Como tudo nessa vida, há o que passa e o que eterniza.
Se me perguntares se o objeto é o mesmo; como um gesto encabulado, com a cabeça digo que sim. Se me disseres para de uma vez esquecer; digo que não sei porque, mas não consigo.
Penso que como algumas coisas passam sem ser lembradas, como as idas ao dentista que teimo esquecer, outras fixam. Tentas jogar pela janela, o vento trás de volta; atiras no mar, a onda devolve aos teus pés. Então, cansado, escondes em um canto, e com o tempo esqueces onde, só o sabes em algum lugar ocupando um espaço.
É como a ferida velha, sob a casca seca, por vezes arrancas pra ver se sarou ou se ainda dói; dói, e a cicatrização parece eterna.
Às vezes penso que o novo substituirá o velho, que enquanto não encontro, guardo-me em dúvidas se a foto que se porá no porta-retrato da cabeceira apagará por vez a imagem que guarda a memória.
E se um dia ainda me perguntares por que não esqueci, então direi que enquanto algumas linhas da vida podem ser apagadas, outras devem permanecer até que tornem-se amareladas.